Na primeira década do Século XX estava a pleno vapor a chamada "Corrida ao Pólo Sul". Vários países com seus principais exploradores buscavam fincar sua bandeira no Pólo Sul. Ficou para a história a disputa entre o norueguês Amundsen e o inglês Scott.
Amundsen no Pólo Sul
Amundsen, com uma expedição bem mais organizada, ganhou a corrida e fincou a bandeira norueguesa no Pólo Sul. E como se não bastasse, para piorar a situação, Scott morreu durante o retorno, a poucos km de um depósito de provisões.
Restava aos ingleses um outro desafio: Atravessar o continente Antártico a pé, passando pelo pólo. E para isto, foi chamado o experiente irlandês Ernest Shackleton, que já havia feito 2 expedições anteriores ao continente gelado.
Plano Original de Shackleton, atravessar a Antártida a pé
Ao partir com o navio Endurance em 05 de Dezembro de 1914 da Estação Baleeira de Grytviken na Geórgia do Sul, com uma tripulação de 27 homens, Shackleton sequer imaginava que estava começando a maior aventura de todos os tempos. A tripulação demonstraria companheirismo, inteligência, organização e superação como nenhuma outra na história.
Menos de 2 meses depois da partida da Geórgia, em um ano especialmente frio, quando a calota de gelo antártica chegara a níveis nunca antes vistos, o Endurance ficou preso no gelo depois de uma brusca queda de temperatura.
Endurance preso no gelo, no que seria
O último dia de Sol da viagem
Os pequenos "ïglus"construídos para os cachorros
Com extrema determinação, a tripulação passou semanas serrando e quebrando a grossa camada de gelo que prendia o navio, mas todas as tentativas de chegar a mar aberto foram frustradas.
A calota de gelo levava o navio à deriva pelos mares, indo cada vez mais para o norte.
Ao perceber que as tentivas de liberar o navio de sua prisão seriam infrutíferas com a iminente chegada do inverno, Shackleton deu a ordem oficial de que a rotina do navio fosse suspensa e a tripulação se preparasse para transformar o navio em seu abrigo do inverno antártico.
A histórica foto noturna do Endurance, com a ajuda de vários bulbos de luz
Após os meses de provação durante o inverno, a pressão do gelo foi mais forte que o casco do navio em 27 de Outubro de 1915, que foi literalmente esmagado pelo gelo, obrigando a tripulação a abandoná-lo e montar um acampamento diretamente sobre o oceano congelado, sob condições cada vez piores.
Navio adernado devido à pressão do gelo
O destroços do Endurance após esmagamento pelo gelo
Acampamento no meio do oceano, montado após perda do navio
Almoçando focas, jantando pinguins, e sacrificando sistemática e parcimoniosamente os cães que seriam usados para puxar trenós durante a travessia por terra, a tripulação manteve-se viva.
Shackleton e um mebro da tripulação limpando um pinguin,
fonte de alimento e óleo para manter os lampiões e aquecedores
Em 09 de Abril de 1916, Shackleton ordenou que a tripulação levantasse acampamento e começasse uma tentativa desesperada de chegar ao mar aberto arrastando 3 botes salva-vidas pelo meio do gelo. A tripulação conseguiu alcançar o objetivo depois de alguns dias, e após uma travessia terrível de 14 dias pelos revoltos mares antárticos, chegou à Ilha Elefante.
Tripulação arrastando os botes para chegar ao mar aberto
Após certificarem-se de que a ilha não oferecia muito mais recursos do que o acampamento no meio do oceano, Shackleton recrutou 5 homens para tentar uma travessia suicida de 760 milhas náuticas até as Ilhas Geórgia do Sul, onde havia estações baleeiras norueguesas.
Partida da Ilha Elefante
Após 16 dias de ventos de até 130Km/h, ondas de mais de 20 metros e um furacão, chegaram à face desabitada da Geórgia do Sul. Foram mais 10 dias atravessando as escarpas e geleiras da ilha até chegarem à Estação baleeira de Stromness.
Concepção artística do que teriam passado na travessia para a Geórgia do Sul
Mesmo à salvo, Shackleton só pensava em resgatar os 22 membros de sua tripulação que continuavam na Ilha Elefante. Como era o auge da 1a Guerra Mundial, existia grande dificuldade em conseguir embarcações para o resgate. Shackleton conseguiu alguns barcos que fracassaram devido às condições climáticas, mas o pequeno barco de bandeira chilena "Yelcho" chegou à ilha e resgatou os 22 tripulantes mais de 2 anos após o início da jornada.
O Resgate na Ilha Elefante
Desenho indicando como era o acampamento na Ilha Elefante, debaixo dos botes
Uma mensagem vinda de um pequena embarcação chilena percorreu o mundo dizendo: ALL SAFE!!! ALL WELL!!
O navio chileno Yelcho, usado para o resgate da tripulação
Apesar de cansados e maltratados, toda a tripulação original do Endurance encontrava-se com boa saúde.
A Tripulação do Endurance
A liderança e determinação de Shackleton é um exemplo a ser seguido, pois sob as condições mais adversas da história manteve a moral e salvou toda sua tripulação de uma situação que parecia mortal. Tanto que algum tempo depois Shackleton chamou a tripulação novamente para uma expedição, a qual ninguém recusou!
Shackleton
O que torna a viagem mais memorável é o fato de que toda a história foi registrada em fotos e filmes por Frank Hurley, fotógrafo oficial da expedição.
O fotógrafo Frank Hurley
LINHA DO TEMPO E MAPA DA EXPEDIÇÃO
lino ueba
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